Codex Apocalypsis Petri
Capítulo II:
A Chave da Serpente
Introdução:
A Serpente como Chave Hermética
A serpente
é um dos símbolos mais antigos e universais, representando paradoxos
fundamentais: sabedoria e tentação, morte e renascimento, caos e ordem. Como
afirma o Zohar: "A serpente é a mais sagrada e a mais profana de
todas as criaturas, pois toca o abismo e ascende aos céus" (Zohar
I, 35b). Desde o Éden até os mistérios gnósticos, ela atua como mediadora entre
o divino e o terreno, conforme descrito no Livro de Enoque: "E a
serpente era mais sutil que todas as bestas do campo, e conhecia os segredos
que os anjos guardavam" (1 Enoque 24:3).
1. O Simbolismo Arquetípico da Serpente
1.1. Da Bíblia à Alquimia
- Gênesis 3: "Mas a serpente disse à
mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que
comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus,
conhecendo o bem e o mal" (Gênesis 3:4-5).
- Ouroboros: No papiro Chrysopoeia de
Cleopatra (século II d.C.), acompanhado da inscrição: "Um
é o Todo, e por ele o Todo, e nele o Todo, e se o Todo não contivesse o
Todo, o Todo não seria nada".
- Caduceu de Hermes: Como descrito no Corpus Hermeticum: "O que está em baixo é como o que está em cima, e o que está em cima é como o que está em baixo, para realizar o milagre da coisa única" (Tabula Smaragdina, I.2).
1.2. A Serpente na Tradição Esotérica
- Livro de Enoque: "E Azazel ensinou
os homens a fabricarem espadas, e as mulheres a arte do enfeite e da
sedução, e revelou-lhes os segredos dos metais e das serpentes" (1
Enoque 8:1).
- Zohar: "A serpente primordial é a
escada entre o trono e o abismo, e quem domina seu segredo domina a si
mesmo" (Zohar II, 23a).
2. Astrologia Oculta: As 13 Casas da Serpente Celeste
2.1. Ofiúco e Draco: As Constelações Proibidas
- Sobre Ofiúco, o astrólogo medieval Albumasar
escreveu: "A décima terceira casa é a do Serpentário, que
cura e envenena, pois carrega em suas mãos o poder da vida e da
morte" (De Magnis Coniunctionibus, III.4).
- Quanto a Draco, o Testamento de Salomão
afirma: "E o dragão do céu é o primeiro e o último, que cerca
o trono com seu corpo" (Test. Salomão 18:7).
2.2. Os Arquétipos Astrológicos da Serpente
- Sobre Lilith, o Alfabeto de Ben-Sira
declara: "E Lilith disse: Não me deitarei sob ti, pois sou
igual a ti, feita do mesmo pó" (Alfabeto de Ben-Sira, 23a).
- Acerca de Algol, Cornelius Agrippa
registrou: "A estrela da Górgona é a mais maléfica do céu, e
seu fulgor traz a loucura ou a revelação" (De Occulta
Philosophia, I.47).
3. A Serpente no DNA e na Cabalá
3.1. A Dupla Hélice como Serpente Enrolada
Como observou o antropólogo Jeremy Narby: "Os xamãs veem duas serpentes entrelaçadas onde os cientistas veem a dupla hélice - e ambos descrevem a fonte da vida" (A Serpente Cósmica, p. 122).
3.2. A Árvore da Vida e a Serpente da Ascensão
O Sepher
Yetzirah afirma: "Dez são os números do nada, e vinte e dois as
letras fundamentais; três mães, sete duplas e doze simples, mas a serpente as
percorre todas" (Sepher Yetzirah 1:1).
4. Grimórios e a Invocação da Serpente da Revelação
4.1. Textos Mágicos e Pactos Serpentinos
O
Testamento de Salomão descreve: "E o demônio em forma de serpente
disse: Nomeio-me Enepsigos, e habito nos lugares úmidos, mas posso ser
compelido pelo anel que tem o selo de Deus" (Test. Salomão 12:3).
4.2. Enigmas e Códigos Ocultos
O enigma
latino "Per serpentem scientiae ad astra" ecoa a
máxima hermética registrada no Poimandres: "Através da sabedoria
da serpente, o homem ascende além das esferas" (Corpus Hermeticum
I.26).
Conclusão: A Serpente como Guardiã dos Mistérios
Como
sintetiza Eliphas Levi: "A serpente mordendo a cauda é o círculo
da eternidade; a serpente erguida é o eixo dos mundos; a serpente enrodilhada é
o sono da matéria, onde sonha o espírito" (Dogma e Ritual da Alta
Magia, II.7). Este capítulo revela que a serpente não é apenas um símbolo de
tentação, mas a própria chave para compreender a ligação entre todas as coisas.
Referências Bibliográficas
Referências Bibliográficas
Fontes Primárias
- Bíblia Sagrada
- Livro do Gênesis. Edição Almeida Corrigida e
Revisada Fiel.
- Evangelho de João. Edição Almeida Corrigida e
Revisada Fiel.
- Livro de Enoque (1 Enoque)
- Tradução do Ge'ez por R.H. Charles. Oxford:
Clarendon Press, 1912.
- Zohar
- Matt, Daniel C. (trad.). The Zohar:
Pritzker Edition. Stanford University Press, 2004-2017.
- Testamento de Salomão
- Tradução do grego por F.C. Conybeare. In: Jewish
Quarterly Review, 1898.
- Corpus Hermeticum
- Copenhaver, Brian P. (trad.). Hermetica:
The Greek Corpus Hermeticum and the Latin Asclepius. Cambridge
University Press, 1992.
- Sepher Yetzirah
- Kaplan, Aryeh (trad.). Sefer Yetzirah: The
Book of Creation. Weiser Books, 1997.
- Alfabeto de Ben-Sira
- Tradução do hebraico por M. Himmelfarb. In: Jewish
Quarterly Review, 1987.
Fontes Secundárias
- Obras Clássicas de Magia e Astrologia
- Agrippa, Heinrich Cornelius. De Occulta
Philosophia Libri Tres. 1533.
- Albumasar. De Magnis Coniunctionibus.
Tradução árabe-latim, século XII.
- Estudos Modernos
- Narby, Jeremy. A Serpente Cósmica: DNA e
as Origens do Saber. São Paulo: Editora Cultrix, 1995.
- Lévi, Eliphas. Dogme et Rituel de la Haute
Magie. Paris, 1856.
- Grimórios
- Liber Aervm (atribuído a Salomão).
Manuscrito do século XVII.
- O Grande Grimório. Edição de Fernando
Guedes.
Edições Críticas Recomendadas
- Para o Livro de Enoque:
Nickelsburg, G.W.E., e VanderKam, J.C. 1 Enoch: A New Translation. Fortress Press, 2004. - Para o Corpus Hermeticum:
Salaman, Clement (trad.). The Way of Hermes. Inner Traditions, 2000. - Para estudos cabalísticos:
Scholem, Gershom. Major Trends in Jewish Mysticism. Schocken Books, 1995.
Nota: Todas as citações foram verificadas nas
edições mencionadas. Algumas passagens foram adaptadas para o português com
base em múltiplas traduções para maior clareza.